sexta-feira, 24 de julho de 2009

incompreensível

Porquê que consoante o tempo passa as pessoas tem de partir da nossa vida? Sem darmos conta, ou sendo mais específica, temendo-o tanto, que ele acaba por acontecer, ele acaba por chegar e nos levar. O medo bate-nos á porta, tentamos fingir que ninguém tocou, que ninguém tentou entrar. Fingimos que ele não está lá, e sempre que partias eu escutava atrás da porta, com o ouvido sobreposto na dura madeira, mas nunca tive coragem de abrir , nunca tive coragem suficiente para falar com ele, para o mandar embora. Imaginei o impossível, e tu não tinhas culpa. Um dia, após tantas noites em vão a ouvir o medo, cheguei a casa, tinha um papel amachucado sobre a mesa. Era uma carta do medo, ele deixára de me bater á porta, e foi bater á tua. Nunca imaginei que não resistisses aos seus ataques e no silêncio me deixasses, e todas as noites voltei a tentar escuta-lo. Mas por de trás da minha porta, só encontrei a solidão e a saudade , o vazio e as noites cruas e densas. Não te encontrei, nem a ti , nem ao medo. Por isso, escrevi-vos uma carta, sei que partis-te, que o medo finalmente mudou de rumo, mas não me contei com isso. Preferia ter vivido a escutar o medo, a poder sentir os teus lábios, que a ficar sem ti, que a ficar sem o medo. Com o tempo fui entendendo, escrevendo cartas, escutando a solidão, a saudade, a noite. Até que num dia de tempestade , em que elas se encostaram de tal modo á minha porta, que decidi abri-la, vazia , voltei a fecha-la, mas não entrei. Fiquei lá fora, levei cobertores e cobri-vos . O que vocês precisavam era que eu vos visse, que me chocasse com a vossa textura. E ao cobrir-vos , ao acompanhar-vos, percebi que vos transformei no contrário ao que eram.

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é o sentir , o querer , o sonhar. é o escrever, voz muda em pensamento eterno. Viver !