segunda-feira, 4 de maio de 2009

O caminho da partida

Ela voava, naquele céu imenso, azul ! Era livre, felina e esperta, onde fazia arcobacias, onde conquistava, onde sorria, onde gritava. Era uma andorinha, tão branca e pura, tão discreta como chafariz de todas as atenções. Naquele dia, a sua felicidade explodia pelos céus e na terra, focava-se um pequeno bosque , onde num trilho , por direcções opostas duas pessoas caminhavam.
Na direcção norte, um jovem, com os seus 16 anos , ar de poucos amigos, com passo agil , certo, mas apressado ! A sua voz era bruta e consigo próprio resmungava! Com 16 anos, ainda não tinha ultrapassado as crises da adolescência, onde o seu mau-estar era habitual e os sonhos tinham sido banidos no ar . Caminhava para norte , onde sonhava caminhar mais depressa, aumentar o ritmo da passagem do tempo, e avançar aquela idade , para muitos de ''criança''. Queria o futuro, estava farto do presente em que foi inserido , e mesmo com toda a revolta de um vulto, tão jovem, aquela andorinha, sonhava pelos céus, sem avançar, sem recuar !
No outro sentido, para sul, uma senhora de 41 anos, dona de uma empresa funerária , que tencionava recuperar o tempo que passou, o tempo que um dia no passado desfrutou .. Caminhava para a busca de memórias, de sentimentos e momentos congelados pela ocasião, para que, recheada de saudades, os pudesse agarrar e (re)lembrar .
E num momento ágil, em que ambos os vultos iam passar um pelo outro, a andorinha cai entre eles! Caída, de asas abertas, de olhos fechados e parada .
Estava morta !
E , o jovem de 16 anos, com ar de apressado , olhou-a .
Os seus olhos reflectiram uma pressão de mágoa, de tristeza, de incompreensão. Mas a sua feição , tão depressa se mexeu ! A mente não o queria rebaixar, ele tinha de continuar , não era um fraco e por sinal era só um animal, uma andorinha ! ''Por amor de deus, uma andorinha'' , pensava.
A senhora de 41 anos, parou, os seus olhos transmitiram calma, paz e serenidade . E lançavam felicidade, harmonia, presença. Verificou se a vida da andorinha ainda estava presente , se o seu coração, coberto de penas brancas ainda estava acordado, mas não. E chamou o rapaz! Este, com olhar de chateado, e perturbado , voltou-se . Viu-a cobrir a andorinha com folhas , verdes e puras, filhas da primavera.
E disse-lhe "Vem cá, sem medos".
Nada mais se esperava, de um jovem de 16 anos, que pensa que a vida lhe corre mal e respondeu: "Diga".
A senhora, arrancou uma pena e disse-lhe :
"O teu olhar, chorou . Mas a tua mente não o deixou ! O que será mais forte ? A mente ou o coração ? Não queiras perder o presente, vagueando para o futuro. Quando quizeres voltar, o presente será passado e tu necessitarás de o viver, mais uma vez, mas ele fugiu ! Não percas o teu rio, desejando um oceano, no qual te podes afogar, perder e não viver ! Esta andorinha, viveu assim! -arrancou uma pena da mesma- Pega, para que sejas tu também, uma pequena andorinha".
Os olhos do jovem, transbordaram lágrimas, tristeza e desorientação, mas por momentos, no meio de tanto sentimento, sorriu, e caminhou, não para o futuro, não para o passado, mas para o presente, o céu . Onde ele próprio, poderá dar asas á alma da andorinha que um dia viu morrer e nada pode fazer !

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é o sentir , o querer , o sonhar. é o escrever, voz muda em pensamento eterno. Viver !